Uma notícia triste chegou ao mercado ontem: a tradicional fabricante de móveis corporativos Giroflex-forma, famosa por suas cadeiras de escritório, vai decidir nos próximos dias se entra com um pedido de recuperação judicial ou de falência. A fábrica da empresa em Taboão da Serra (SP) parou ontem. Para muitos foi uma surpresa, para mim nem tanto, pois uma amiga que fazia parte da área de gestão da empresa já no ano passado pediu demissão da empresa por não concordar com os métodos utilizados e por sentir que a coisa não ia bem.
Ambevização
A empresa, que era controlada por uma ONG até o fim de 2011 (isto mesmo, você não leu errado, uma ONG) foi vendida para Galícia Investimentos, fundo de private equity formado por ex-executivos da AMBEV e Gafisa. O grupo de investidores adquiriu 51% da empresa, após a saída da Aceco, que detinha um terço das ações. Com a reformulação societára, a companhia saiu dos mercados de pisos elevados e arquivos deslizantes (fabricados pela Aceco), que representavam 20% do faturamento da empresa, voltando a focar somente nos segmentos de cadeiras e estações de trabalho. Desde então a empresa passava por um processo de choque de gestão, o que o mercado chamou carinhosamente de “ambevização”.
A “revolução” na companhia começou quando Sergio Saraiva, um dos sócios da Galícia, sentou na cadeira de presidente após vinte anos na AMBEV. A história teve início quando no fim de 2010 a Galícia foi procurada pela Associação Beneficiente Tobias (ABT), a tal ONG então controladora da Giroflex, para fazer uma avaliação de melhorias na empresa. Mas a Galícia só aceitou a missão com uma condição de ter a opção de compra da empresa. “Não prestamos consultoria, procuramos boas empresas para investir”, disse Saraiva, um dos sete sócios da Galícia.
No grupo controlador estão também Magim Rodriguez Junior, ex-presidente da AMBEV, e Luiz Claudio Nascimento, ex-presidente da Gafisa. O grupo foi fundado em 2008 para comprar companhias com potencial de crescimento. Além da Giroflex, a Galícia é sócia da Eazylearn, de ensino de idiomas à distância, e da 2Get, de recrutamento de executivos.
No processo de reestruturação da empresa mudanças foram introduzidas como o fim das vagas demarcadas no estacionamento para executivos, salas particulares foram eliminadas, modernos softwares de gestão foram implantados, e claro, a implementação de métricas e métodos de administração a lá AMBEV que visa estabelecer metas para tudo que é possível.
Novos Rumos
Do ponto de vista de produção, as maiores mudanças foram duas: atuação em novos segmentos de mercado e terceirização da produção.
Para entrar em novos segmentos a empresa pegou carona na copa do mundo através do fornecimento de cadeiras de estádio. Até então as cadeiras giratórias eram o carro chefe da empresa, junto com poltronas para cinemas e teatros e assentos coletivos representavam 70% do faturamento.
Já a estratégia de terceirização da produção, na definição do próprio presidente, “a fábrica virou montadora”. Tinha-se um processo de produção verticalizado e quase todos componentes dos móveis eram fabricados pela própria empresa. Com a terceirização de aproximadamente 30% do processo ganhou-se em produtividade.
O Custo Brasil
Apesar da liderança e reconhecimento no mercado doméstico, a Giroflex-Forma também faz parte do grande grupo de empresas que só conseguem crescer dentro do país. A marca possui representações em 9 países da América Latina, mas as exportações representavam apenas 1% do faturamento da companhia.
Em entrevista no ano passado, o presidente já dizia: “A gente está focando no mercado brasileiro, que tem a maior base e é o que mais cresce”, E qual é dificuldade para se tornar um player global? “Custo Brasil", respondeu o executivo, citando mão de obra, carga tributária elevada, financiamento e a burocracia.
"Tudo aqui é moroso. É uma catraca gigantesca, que não existe muito em outros países", criticou o presidente da companhia. “A gente não quer esconder a nossa ineficiência e que o governo seja protecionista. O que a gente quer é que exista alguma forma de equalizar a diferença de custo Brasil com os produtos importados", acrescentou.
O que deu Errado?
Dados do ano passado mostravam um aumento de 35% na eficiência e uma redução de 33% nas despesas fixas. Mas não foi suficiente. Nem mesmo o contrato de 79 mil assentos do estádio do Maracanã foi suficiente para salvar a Giroflex. As dívidas somam R$ 80 milhões. Os planos eram ambiciosos. A meta era quintuplicar de tamanho e chegar em 2017 com um faturamento de R$ 1 bilhão. "Tentou-se uma reengenharia administrativa, mas a empresa vinha, há um bom tempo, acumulando muitos prejuízos operacionais", diz o advogado da companhia Ivan Vitale. "Era uma operação fadada ao insucesso."
Vitale diz que os 300 funcionários deverão receber suas indenizações e que a dívida é com fornecedores e bancos. Segundo ele, uma das causas dos problemas foi a falta de pagamento por parte de governos e prefeituras. "Tinham muitos contratos públicos, mas não receberam e isso comprometeu o fluxo de caixa", afirmou.
Saraiva deixou a presidência, mas desavenças entre a Galícia e o sócio minoritário (Associação Beneficente Tobias), criaram uma situação insustentável.
Fala do presidente:
Fiquei com a impressão correta de que o post faz uma leve critica a 'Ambevização'?
ResponderExcluirrs, não à "ambevização" em si, (na Ambev deu certo não é mesmo), mas ao fato de que não basta lançar metas ambiciosas, cada cenário uma abordagem...
Excluir"Parabéns" aos competentes diretores da Giroflex, tanto da atual gestão quanto da anterior. Conseguiram quebrar uma empresa que era líder de mercado em seu segmento e que até 2008 tinha um ótimo faturamento. Dispensaram os funcionários que conheciam todos os processos da empresa e que faziam a diferença e encheram de um monte de engravatados cheios de teorias e que não colocavam a mão na massa. Primeiro veio o Sr Edymar Moran, da Pirelli, ai começou a derrocada da empresa, depois veio o pessoal da Ambev que acabou de afundar uma empresa sólida com mais de 70 anos de tradição. Enfim, fabricar cadeiras e móveis não é a mesma coisa que fabricar pneu e cerveja. Eram muitos caciques para poucos índios!!!!
ResponderExcluirConcordo plenamente. Trabalhei na Giroflex por mais de 15 anos e nunca imaginava que poderia um dia chegar nesta situação. Não trabalhei com estas pessoas que você citou, mas posso garantir que na minha época vestíamos a camisa da empresa e o faturamento realmente era ótimo. Não era atoa que a empresa era líder de mercado.
ExcluirÉ aquele velho ditado, passado não garante futuro.
ExcluirE esta história de governos e prefeituras que não pagaram, até onde vai este calote?
A derrocada teve inicio com a soberba do ex presidente Ferreira aliada as mentiras corporativas deste Moran, do Queiroz, a ignorância de mercado da Escobar, as incapacidades de Machados e Villareal, Boturas e afins, todos detonados pelos Galicias ao entrarem na cia, e incrivelmente mantidos até recentemente, trocaram a alma por teorias infundadas para este mercado. Faltou caráter.
ExcluirNão conheço o perfil de nenhum dos citados, mas para uma empresa tão tradicional como esta ter chegado neste ponto uma conjunção de fatores negativos deve ter contribuído. Um avião não cai por defeito em um só sensor, para isto o piloto deve saber interpretar o sinal errado e agir conforme as condições de tempo, carga, distância ao próximo aeroporto, etc. Um conjunto de erros pode ser fatal para a tripulação e os passageiros.
ExcluirAGORA SO RESTA ESPERAR SENTADO AS INDENIZAÇÕES
ResponderExcluirTristeza.
ExcluirRsrs!ops
ResponderExcluirNa realidade esse processo começou quando a Giroflex, que era uma empresa sadia, começou a fazer associações. A única associação boa foi a FORMA, que era um ícone. O erro foi acreditar que o mercado de FORMA, migraria para a Giroflex, ou vice versa, Eram mercados totalmente diferentes. A FORMA sempre foi uma empresa de vanguarda, enquanto a Giroflex era cada vez mais obsoleta, deitada em berço explendido de outrora, A ela se associaram empresas que não acrescentaram nada, muito pelo contrario, com uma politica comercial medíocre. Enquanto isso uma FLEXFORM, cresceu com um ótimo produto.
ResponderExcluirPior que isto não é novidade, já aconteceu inclusive comigo: duas empresas se juntam, uma mais ou menos e uma boa: no final não sobra nem uma nem outra.
ExcluirTrabalhei na Giroflex entre os anos 2008 à 2011. Entre um setor e outro notei que havia uma grande divergência de demanda, ou seja, no setor de cadeiras havia muitos funcionários para pouco trabalho sem contar ainda as horas extras inventadas por coordenadores e gerentes de produção, já no setor que fabricava móveis curiosamente só aparecia algo para fazer no final do dia, gerando horas extras para justificar a conclusão de tal demanda. Como testemunha ocular posso relatar que lá dentro havia um monte de "cegos administradores", me refiro aqueles que "olham para o seu salário enquanto a empresa passa por uma crise de saúde financeira e de processos". Esses são só alguns dos fatores que cooperaram para o fracasso sem falar ainda na falta de planejamento estratégico financeiro e profissional de seus colaboradores internos.
ResponderExcluirPior que empresas assim existem aos montes neste Brasil. Estão fadadas ao fracasso...
ExcluirIndependente de quem ajudou ou não a falir a empresa GIROFLEX FORMA, o maior prejuízo é para os pais/mães de famílias que saíram com uma mãe na frente e outra atrás. Pessoas que dedicaram boa parte de suas vidas, que vestiam a camisa e que hoje estão à merce de pessoas egoístas e desonestas.
ResponderExcluirÉ triste quando uma empresa termina assim. anos e anos de dedicação evaporam. Mas com certeza os novos donos não entraram no negócio para fechá-lo, foi sim um fracasso e tragédia para todos.
ExcluirExcelente abordagem. Eu também fiquei desanimado com o "custo Brasil", já tive empresa própria, fui empregado e novamente tentei ser empresário e fechei novamente. O Brasil é um país inviável para o empreendedorismo (uma arapuca), mesmo com tanta publicidade e "apoio" (tentam empurrar vc para o abismo), nada muda em termos de taxas juros, "extorsão" dos bancos, tributação, "burro-cracia" e estimulo constante a sonegação.
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