segunda-feira, 18 de março de 2019

Empiricus: Vale a Pena?

A Empiricus está novamente no centro das atenções, com o viral da Bettina, a empresa tem alcançado uma audiência acima da média. Nada que se compare à matadora campanha "O Fim do Brasil", mas o reboliço gerado no mercado financeiro foi grande. Alguns leitores não sabem mas na finansfera também temos uma Bettina. Semanas atrás ela deixou um comentário lá no Abacus...


Imagino que seja a Fernanda que escrevia nestes blogs:

http://fernandainvestidora.blogspot.com/
http://mulherinvestidora-oretorno.blogspot.com/

Veja agora a resposta do CEO às críticas...



Aproveitando o momento, estou republicando este post que fiz sobre a Empiricus tempos atrás para quem não teve a oportunidade de ler...


Nas minhas andanças pelas redes sociais nos últimos dias, tenho me deparado com uma chamada que dá título a este post: “O Fim do Brasil”. Primeiramente não dei muita bola pensando se tratar apenas de mais uma projeção acerca de uma possível reeleição da presidenta ou então mais uma “tempestade perfeita” se formando nos céus do Brasil - bem que estamos precisando de chuva, não seria de todo ruim. Mas adentrando um pouco mais nos links, percebi se tratar de uma “carta aberta aos brasileiros” proveniente de uma empresa de análise de investimentos chamada Empiricus. Vamos aos fatos...

A Empiricus Research


Trata-se de uma casa de pesquisa independente voltada a investimentos do Brasil. O negócio principal da empresa é a venda de relatórios destinados a pequenos investidores. Segundo palavras da própria empresa: “Fornecemos recomendações amparadas em estudos financeiros e econômicos, privilegiando a linguagem simples e direta.”

A empresa ficou então conhecida recentemente por projetar a ‘morte econômica’ do Brasil em caso de reeleição de Dilma Rousseff. Em anúncio na internet lançam um diagnóstico atual da economia brasileira, formulam algumas projeções catastróficas com base no diagnóstico, e, ao final do texto, apresentam outros relatórios (pagos) onde o investidor encontrará informações valiosas para se proteger da inflação, do governo propriamente dito, aprender a “regra dos 100%” que é um segredo para “fazer” dinheiro quando os mercados estão arriscados, e por último, prometem apresentar ao investidor o único ativo capaz de proteger sua família do caos. Que ativo é este? Fiquei deveras curioso.

Segundo o colunista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, o autor do relatório Felipe Miranda, um dos sócios da Empiricus, é bom de marketing. Mas sua peça é contra a decência e com ela se credencia a ser mais um colunista da Veja ou da Folha: Basta falar mal do PT e o resto não importa.

Estratégias de marketing à parte, o fato é que a empresa está faturando alto com a venda dos seus relatórios. Dados de uma reportagem de maio deste ano, já antigos portando, apontavam que 10 mil pessoas já compraram pelo menos um relatório da empresa e havia 5 mil assinantes dos periódicos da casa. 

Os críticos costumam dizer que a Empiricus faz muita graça com coisas sérias. Alguns os comparam a humoristas. Também já houve momentos em que a credibilidade da casa foi posta à prova. Em um deles, os críticos não gostaram da ideia de que a Empiricus também tivesse uma gestora de fundos. Para eles, haveria, no mínimo, um conflito de interesses.

Um Pouco de História - Iguatemi Galleas FIA

A Empiricus destaca que “a análise é o começo, meio e fim do nosso negócio”. Mas a empresa já foi gestora de um fundo de investimento, o Empiricus Galleas. A administração deste fundo foi passada à Gradual em meados de 2011 mas a escolha dos ativos do fundo continuou a cargo dos analistas da Empiricus. Em 2013 o fundo foi rebatizado para Iguatemi Galleas e, em seguida, encerrado com um prejuízo total de R$ 45 milhões aos seus cotistas.

O gráfico abaixo apresenta o tamanho do rombo que o fundo deixou. Conforme a lâmina do FIA que pode ser acessada aqui o objetivo era superar o Ibovespa com grande diferença no longo prazo, a partir de seleção de ações com disparadores de valor, como incremento do fluxo de  caixa acima do estimado ou de eventos corporativos, ou de antecipação de tendência de indústria. Mas a coisa não saiu conforme esperado...


Me coloquei no lugar dos investidores deste fundo e fiquei um pouco desconfortável imaginando como deve ser a sensação de perder tanto dinheiro pela má gestão de um fundo de investimento. Na carta derradeira da gestora aos cotistas foi escrito:

“O terceiro trimestre de 2013 marca o fim da trajetória do Fundo Iguatemi Galleas. Nosso principal caso, a HRT, falhou em materializar seu valor potencial tanto nas empreitadas de Solimões com na Namíbia. (...) Com o esvaziamento do case HRT, encontramo-nos sem opções para reverter a rentabilidade do Fundo no curto e médio prazo. A combinação de cotas depreciadas e de resgates constantes fez com que o Fundo diminuísse muito de tamanho, ficando economicamente inviável mantê-lo na forma atual.”

Em carta anterior, de março de 2013, a gestora mostrava-se ainda otimista quanto ao case:

“Estamos particularmente otimistas com o mês de abril. Primeiro, por um ponto bastante óbvio: no momento em que estas linhas são escritas, as ações de HRT acumulam alta de 30% no mês. Entendemos que esse é apenas o começo de um movimento mais extenso de recuperação. Entre o final de abril e o início de maio, HRT pode anunciar os primeiros resultados de suas duas perfurações em curso, uma na Bacia do Solimões (HRT-11, no prospecto Cajazeira) e outra na Namíbia (prospecto Wingat), sobretudo se optar por anunciar resultados intermediários dos reservatórios.”

“Ademais, diante da iminência do resultado das duas perfurações, este é o momento mais apropriado para atrair-se investidores para o capital de HRT interessados na materialização do racional de qualquer oil junior company, de destravamento de valor associado a eventuais descobertas e muita assimetria entre perdas e ganhos potenciais.”

Convenhamos, um fundo de ações apostando em uma empresa pré-operacional é algo corriqueiro de encontrar por aí (pelo menos era antes da decorrada do império X), mas apostar mais de 50% do capital é algo que pode ser considerado bizarro. Esta história não poderia mesmo terminar bem.

Meu Passado me Condena

A Empiricus foi uma das casas que mais apostaram no potencial da OGX. Até 2012 ainda recomendavam a compra de ações da empresa. Em um momento quando o preço da ação estava em R$ 6,25, após já ter caído 73,26% desde seu topo histórico de R$ 23,37, a casa emitiu um relatório ao mercado destacando: “Encontramos bastante atratividade no valuation da companhia”.

A carteira recomendada da casa de research referente a julho de 2012 também indicava compra das ações da companhia, mesmo após uma queda de 40% em uma semana anterior ao relatório. Nesta época, outras casas já estavam retirando a recomendação de compra da OGX de forma permanente dos seus relatórios: “Embora o sistêmico ainda desfavorável a cases de óleo e gás - especialmente os de alto componente de pré-operacionalidade, e a crise de confiança instaurada sobre a empresa, entendemos que o mercado exagerou (...)”.

Outro momento de crença da Empiricus na empresa foi em 2011. Após um relatório da OGX sobre reservas de poços que frustrou o mercado, casas como Bank of América e Citi cortaram a recomendação da companhia mas a Empiricus reforçou. Um dos analistas da empresa, na ocasião, em entrevista a um portal de notícias recomendou as ações da OGX para investidores com “estômago para volatilidade”.

Recuando um pouco mais no tempo, no auge da febre X, em fins de 2009, as ações da OGX estavam cotadas em torno de R$ 16,00. A Empiricus, naquele momento, destacou que a empresa tinha potencial para subir mais de 100%.

"Gradativamente mais confiantes em OGX: Recomendamos a compra de OGX na última terça-feira. Na semana, as ações acumulam valorização superior a 15%. Reforçamos nosso otimismo com a empresa após mais uma notícia positiva ontem. Em Fato Relevante, a companhia disse que: “identificamos um intervalo com hidrocarbonetos na seção aptiana no poço 1-OGX-2A-RJS, localizado no bloco BM-C-41, em águas rasas da parte sul da Bacia de Campos”. A OGX tem 100% de participação neste bloco. O X-Men Paulo Mendonça comentou que os resultados até o momento dão mais confiança de que a companhia encontrou uma nova província petrolífera na parte sul da Bacia de Santos, em mais uma belíssima demonstração de sua capacidade de comunicação com o mercado. Gostamos disso. Reconhecemos que o downside não é pequeno, mas o potencial de valorização é muito maior - a assimetria aqui joga a seu favor, meu caro. Pode ser uma grande porrada em Bolsa caso as coisas continuem dando certo como estão."

Com notícias deste tipo se espalhando, muita gente comprou ações da OGX (sabem de nada inocentes). E as ações subiram um pouco num primeiro momento, pela própria procura, para em seguida começar a grande queda. O resto da história todos já conhecem. Devo confessar que eu também comprei ações da OGX, só que lá na casa dos 20 centavos, era um trade meio loco que acabou me dando um bom lucro, mas acabei ficando com um residual na carteira para contar história para os netos, rs.

Meu Passado me Condena 2

Outro grande equívoco da equipe de analistas da Empiricus foi a aposta na empresa HRT. Em maio de 2012, em um momento em que as ações da empresa apresentavam forte desvalorização, a Empiricus afirmava ser um bom ponto de entrada no papel.

Em relatório, os analistas da Empiricus afirmavam que o desempenho negativo das ações já era esperado, mas que ele se devia apenas a uma “interpretação equivocada e enviesada de curtíssimo prazo, colocando sob uma mesma cesta coisas bastante distintas”.

Escarafunchando um pouco mais sobre o flerte fatal da Empiricus com a HRT encontrei no blog da casa um post do analista Felipe Miranda (sim, o mesmo que prega o “fim do brasil” e diz ter a fórmula para se proteger disto). Neste texto, o analista faz um desabafo apontando os principais erros em relação ao case:

“No caso de HRT, ao menos do ponto de vista superficial e mais pragmático, errei duplamente. Na posição de analista, sugeri ações que posteriormente vieram a cair. Como investidor, comprei os papéis e perdi dinheiro. Poderia até dizer que triplamente, posto que referendei as ações a amigos e meu sogro, o que me confere constrangimento quando das reuniões em família.”

O Fim do Brasil

Polêmicas à parte, considero que o relatório da Empiricus foi bem costurado e conseguiu reunir de forma clara e detalhada tudo o que temos lido e ouvido no decorrer destes últimos anos de sofrimento econômico. Resolvi copiar os pontos mais interessantes para colocar aqui no blog, mas o leitor poderá ter acesso ao relatório completo neste link e realizar seu próprio julgamento.

Fim do Brasil: A Profecia

Esta esperada crise encontra suas raízes no colapso do sistema financeiro de 2008 (...). Para tentar neutralizar impactos do tsunami externo por aqui, o Brasil abandonou os pilares tradicionais de política econômica e seguiu uma série de medidas heterodoxas, com implicações trágicas (...).

Para nosso caso, os problemas a ser vistos nos próximos meses serão muito piores do que os vivenciados em 2008 (...).

Adiantando um pouco, tão logo haja catálise do que eu projeto, teremos disparada da inflação, aumento destacado do desemprego, interrupção do crédito, maior endividamento da população e grande salto do dólar.

Fim do Brasil: A Ofensa

As palavras a serem ditas aqui gerarão polêmica. Elas podem ofender bastante gente. Esquerdistas, direitas, petistas, tucanos e qualquer outra classificação semelhante. (...).

Minha sensação é de que, ao ler o começo desta carta, você dirá: “Não há espaço para isso acontecer. Não aqui. Não agora.”

A poupança de milhões de pessoas será dizimada. A mudança vai afetar seus negócios e seu emprego. Veremos impactos dramáticos sobre as poupanças, os investimentos e as aposentadorias.

Além de outras implicações menores, mas também importantes. Os destinos de viagem serão alterados, a escola dos filhos pode ser revista, local e forma sua família faz compras talvez mude.

Mais especificamente, faço referência à volta de condições anteriores ao Plano Real. Os mais antigos sabem do tamanho do problema. Os mais jovens podem perguntar a seus pais.

Falo de inflação alta, perda da metade do poder de compra do salário ao longo do mês, congelamento de preços, problemas de desabastecimento, falta de produtos nas prateleiras, impossibilidade de planejamento por consumidores e empresários.

Fim do Brasil: O Colapso

Eu acredito que nós, como brasileiros, estamos prestes a observar um verdadeiro colapso no nosso sistema econômico (...).

Basicamente, há cerca de cinco anos, o Governo brasileiro mudou dramaticamente sua política econômica. (...) Abandonamos o pilar ortodoxo para nos render à maior intervenção do Estado na Economia, a uma economia pautada no assistencialismo e ao estímulo excessivo ao consumo.

Qual o resultado? Falência das contas públicas e impossibilidade das famílias continuarem aumentando o consumo nesta velocidade.

O Brasil tem queimado caixa de maneira sistemática. O total de suas despesas supera suas receitas. Pior ainda, a diferença em desfavor das receitas tem aumentado. O déficit nominal brasileiro, que mede esta relação, mira os 4% ao ano e as contas públicas tiveram em maio seu pior resultado da história, mesmo com uma contabilidade nacional bastante criativa e uma porção de receitas extraordinárias.

Sem confiança, os empresários simplesmente não investem. A relação Investimento sobre PIB, que nunca foi uma maravilha, vem caindo de maneira consistente: depois de atingir o ápice de 19,5% no fim de 2010, recuou para apenas 18,1%.

Fim do Brasil: O PIBinho

O crescimento médio do PIB no governo Dilma, se confirmadas as projeções de consenso para 2014, deve ser de 1,8% ao ano. Veja: esse é o pior resultado desde o governo Collor. Temos a primeira evidência empírica e incontestável de que retornamos as condições anteriores a 1994. 


“Mas este crescimento mais baixo desde a Era Collor não é resultado de uma conjuntura internacional desfavorável?”

A simples observação da imagem abaixo comprova a resposta negativa. O gráfico compara a evolução do PIB brasileiro nos governos Dilma, Lula, FHC, Itamar e Collor, contextualizando com o resto do mundo, os países emergentes/pobres e nossos vizinhos latino-americanos. Eis o resultado:



Fim do Brasil: O Dragão da Inflação

A inflação tem sido persistentemente alta e acima do centro da meta, de 4,5% ao ano. Simplesmente, temos ignorado esses 4,5% e observado, de maneira sistemática, uma inflação beirando o teto da meta.
 

Sim, há coisas ainda mais desagradáveis a respeito da inflação. Já teríamos estourado o teto da meta não fosse pelo controle de preços. Ou seja, estamos artificialmente maquiando a inflação, ao represar alguns preços, com exemplos mais claros nos setores de energia e combustíveis.

Sem desonerações, a inflação ronda 8,50% ao ano.

O represamento de preços tem consequências conhecidas e desastrosas, como sugestão de maior inflação futura, desalinhamento de preços relativos e destruição de determinados setores.

O setor de etanol foi simplesmente destruído pelo controle deliberado do preço da gasolina. Veja o que diz matéria do jornal Valor Econômico, do dia 17 de junho de 2014:

“A indústria de etanol do Brasil enfrenta tanto pressões de aumento do custo da terra e da mão de obra, como tornou-se uma vítima não intencional do controle de preços da gasolina para frear a inflação, avalia a Agência Internacional de Energia.”

E completa:

“No Brasil, a AIE nota que o aumento da capacidade de produção de etanol estagnou, várias plantas foram fechadas e mais capacidade pode estar em risco.”

Esses dois primeiros pontos já seriam suficientes para provarmos o argumento do quão grave é o problema atual. Combinamos simplesmente baixíssimo crescimento econômico e inflação alta.

Temos, portanto, o mais negativo dos mundos, a chamada estagflação.

Mas, calma. Há coisas graves ainda pela frente, capazes de reforçar o prognóstico de algo simplesmente catastrófico para os próximos 12 meses. Falamos de inflação que pode chegar a 15% ao ano, forte redução do poder de compra, aumento do desemprego para 10% e interrupção súbita do crédito, com consequente dificuldade das famílias em arcar com suas obrigações financeiras.

Fim do Brasil: A Deterioração das Contas Públicas

As contas públicas estão completamente desajustadas, de tal sorte que o Governo brasileiro vai, em breve, encontrar grandes dificuldades para se financiar. Ou seja, as taxas de juro devem subir com vigor, impactando fortemente o orçamento das famílias e a capacidade de crédito.

Nossa economia para pagar dívida e juros, o chamado superávit primário, foi, na média, de 3,1% do PIB no intervalo de 2001 a 2008, sem considerar aqui receita de dividendos e concessões.

Considerando agora o intervalo de 2009 a 2013, esse percentual caiu para 1,5% do PIB. Para 2014, devemos terminar com menos de 1% do PIB, algo que é, obviamente, insuficiente para estabilizar dívida bruta ou líquida.


Isso sem nenhum incremento significativo do investimento público. O que tem aumentado é o consumo do governo – esta métrica bateu 22% do PIB, o nível mais alto da série histórica iniciada em 1995.

Fim do Brasil: O Déficit da Conta Corrente

O resultado de nossas relações com o resto do mundo, que já era péssimo, fica cada vez pior. O chamado déficit em transações correntes, medida do saldo de nossas contas com o exterior sem considerar as movimentações de capital, vem crescendo sistematicamente e atinge níveis preocupantes.

Em maio, o déficit brasileiro em conta corrente montou a US$ 6,635 bilhões, o mais alto para um mês de maio em toda a série histórica.

O desempenho é inclusive pior do que projetado pelo próprio BC, em US$ 6 bilhões. Soma-se ao já delicado resultado apresentado até abril, conforme demonstrado por gráfico abaixo:


Qual o problema disso?

Para que não haja saída líquida de dólares do Brasil e perda de reservas internacionais, precisamos da entrada de moeda estrangeira por meio da conta de capital.

Por sua vez, a conta de capital possui, grosso modo, duas subdivisões: i) Investimento Estrangeiro Direto (IED); e ii) Investimentos de portfólio.

O ponto nevrálgico aqui é que o IED está inferior ao déficit em conta corrente. Portanto, para fechar nosso balanço com o resto do mundo, estamos dependendo do investimento em portfólio, que é muito volátil e sensível à menor das mudanças das condições da economia mundial.

Por enquanto, com o Brasil oferecendo um juro estratosférico e os Bancos Centrais mundiais mantendo juro zero, parece não haver grande problema.

Mas a situação está próxima de mudar. O Banco Central norte-americano deve começar a subir sua taxa de juro em 2015, voltando a atrair recursos para os títulos dos EUA hoje presentes nos mercados emergentes.
Neste momento, vai faltar dólar no Brasil. Teremos uma disparada da taxa de câmbio, com impactos diretos sobre a inflação, sobre os importadores e sobre as empresas com dívida em dólar.

Fim do Brasil: O Enfraquecimento do Mercado de Trabalho

A criação líquida de postos de trabalho em maio foi de 58.836, segundo dados do Caged. Trata-se do pior mês de maio desde 1992. Estamos com novo argumento de situação sem precedentes desde o Plano Real.
Por que o desemprego, então, ainda não aumentou?

Simplesmente, por uma questão de forma de se medir. Só é considerado desempregado quem está procurando emprego, mas não encontra.

O desemprego não aumenta simplesmente porque as pessoas têm desistido de procurar emprego.

Fim do Brasil: O Último que Sair Apaga a Luz

Os analistas do banco Brasil Plural escreveram relatório recentemente apontando uma pequena chance de 100% de racionamento de energia ainda em 2014. De acordo com eles, o nível dos reservatórios chegará a 10% em novembro, a se manter o atual ritmo.

Sejamos justos aqui. Há um único culpado para o nível tão baixo dos atuais reservatórios: São Pedro. Agora, a falta de planejamento, a concentração da matriz energética e o impedimento ao aumento da capacidade de oferta de energia é culpa total e irrestrita do Governo.

Em setembro de 2012, foi anunciada a famosa MP 579, que alterou as regras para concessões de energia, com o objetivo de reduzir as tarifas de eletricidade – de novo, o tal controle de preços.

A medida destruiu a rentabilidade de empresas de energia, adicionou incerteza jurídica ao  marco regulatório do setor e, portanto, afastou iniciativas em prol de novos investimentos.

Além disso, desrespeitou contratos existentes.

O exemplo de Cemig é emblemático. A companhia tinha concessões vencendo em 2015, com renovação automática prevista para mais 20 anos, conforme definido em contrato inicial.

Quando se fala em renovação automática de qualquer contrato, supõe-se, obviamente, preservação das mesmas condições iniciais.

Então, veio a MP 579 propondo condições completamente diferentes para a renovação das concessões, ferindo com clareza o pressuposto de “automática”.

O resultado foi a devolução, pela Cemig, das usinas de São Simão, Jaguara e Miranda, por não aceitar a aplicação das novas regras.

Fim do Brasil: O Petróleo é Nosso

O gráfico acima apresenta a evolução das ações da Petrobras nos últimos cinco anos.


O patrimônio nacional sendo simplesmente reduzido a 1/3 de seu valor. Quem tinha R$ 40 mil em ações da Petrobras chegou à mínima de R$ 12.570.

Além de ser historicamente motivo de orgulho, Petrobras tem em sua base de acionistas milhares de brasileiros, de forma direta ou através da aplicação de seu FGTS.

Estamos mexendo com a poupança do cidadão comum.

Chegamos a essa situação simplesmente porque a empresa tem o preço de seus produtos controlado pelo Governo. Quando impede-se o reajuste de preço da gasolina, Petrobras se vê obrigada a comprar produtos por um preço superior a seu preço de venda.

O resultado? Queimas sucessivas de caixa, num momento em que a companhia tem um ambicioso plano de investimento para tocar, e explosão de sua dívida líquida.

Mais uma conquista para o Brasil: Petrobras hoje apresenta a maior dívida corporativa de todo o mundo. A evolução abaixo resume a questão.


Com inveja da Petrobras, a Eletrobras, outra estatal relevante, também foi destruída.

Eletrobras nunca foi exemplo de eficiência. A empresa é historicamente reduto do PMDB, possui rentabilidade sobre o patrimônio baixa e entra em projetos ruins, para atender anseios políticos.

Sempre foi assim. E a empresa, de uma forma ou de outra, se virava. Mas a situação degringolou a partir da MP 579. O gráfico abaixo traz a trajetória das ações de Eletrobras nos últimos cinco anos. Não é muito diferente de Petrobras:


A situação de Eletrobras é ainda mais complicado do que aquela apresentada acima para Cemig. A empresa também foi exposta a condições piores (e de baixíssima rentabilidade) para renovar concessões.

Mas, diferentemente de Cemig e de outros participantes de mercado, Eletrobras aceitou termos que implicavam retornos negativos para determinados projetos.

Isso porque era do interesse da União (principal acionista e que votou proporcionalmente às suas ações em Assembleia) manter as concessões pouco rentáveis.

A resposta foi imediata. Suas ações simplesmente derreteram em Bolsa.

Fim do Brasil: A Desindustrialização


A produção industrial brasileira está simplesmente atônita. Isso num Governo que supostamente tinha uma política industrial explícita.

O tal Plano Brasil Maior, lançado em 2011, tinha objetivos muito bem definidos para 2014. Eram eles:

- Aumentar a taxa de investimento dos 18,4% vistos em 2010 para 22,4% do PIB;
- Elevar dispêndio empresarial de Pesquisa e Desenvolvimento como percentual do PIB de 0,59% para 0,90%; e
- Diversificar a pauta de exportações, aumentando a participação brasileira no comércio internacional de 1,36% para 1,60%.

Pronto. Chegamos em 2014, o que nos dá a prerrogativa de analisar se atingimos os resultados. A conclusão é assustadora. Não cumprimos nenhum dos três objetivos.

A relação Investimento sobre PIB não somente descumpriu a meta de 22,4%, como inclusive caiu frente ao ponto inicial. Dos 18,4%, batemos vergonhosos 18,1%.

Sobre o investimento em P&D, ainda não há dados muito atualizados. Mas pesquisas feitas para 2011 apontaram uma enorme subida da razão gastos em P&D sobre PIB de 0,49% para 0,50%. Alguém, em sã consciência, admitiria um crescimento dessa relação para 0,90% em três anos?

A respeito das exportações, a coisa fica ainda mais pitoresca. Não diversificamos nossa pauta, tampouco aumentamos nossa representatividade na corrente de comércio mundial.  A participação dos produtos manufaturados nas exportações era de 39,4% em 2010. Passou a 38,7% em 2013. Tínhamos 1,35% da exportação mundial em 2010. Encerramos o ano passado em 1,29%.

Fim do Brasil: O Tripé Econômico Ficou Manco

O Brasil, tal qual nós conhecemos hoje, nasceu em 1994, com a estabilização da economia.

Antes disso, tínhamos um outro país, em que famílias, amedrontadas com a inflação, corriam para o supermercado tão logo recebiam seus salários, empresários não investiam por conta da falta de confiança na moeda e da incerteza jurídica, consumidores não compravam porque a inflação era galopante e não existia crédito.

O Plano Real marca, inequivocamente, um novo Brasil. Com isso, até mesmo o maior dos radicais, de esquerda ou direita, há de concordar.

A inflação desabou com o real.

Em paralelo, houve vigoroso crescimento econômico, sob empurrão da demanda reprimida, confiança nos negócios e recomposição dos salários reais.

O crescimento da economia em 1994 foi de 5,9%. A indústria andou muito bem e também a agropecuária, cuja evolução foi de 5,5%, rendendo-a o apelido de “âncora verde do real.”
O surto de crescimento durou pouco.

Para manter a inflação baixa, foi usada a chamada “âncora cambial”. O real foi forçadamente sobrevalorizado por meio de taxas de juros muito altas.

A consequência foi óbvia: baixo crescimento econômico e disparada das importações nos anos seguintes.

Para manter o câmbio apreciado e oferecer dólares ao mercado na taxa desejada, chegamos a perder US$ 1 bilhão de reservas internacionais por dia, durante vários dias.

Duas crises simultâneas como resultado: nas contas externas e nas contas públicas.

A semente da destruição estava plantada. O estouro do modelo era inevitável.

A resposta veio em 1999, quando inicia-se uma nova fase, marcada pelo famoso tripé macroeconômico. Abandona-se a âncora cambial, com o novo regime sendo detalhado em junho.

Ficaram definidos como elementos centrais da política econômica:

1 – câmbio flutuante;
2 – metas de superávit primário; e
3 – sistema de metas de inflação.

O tripé caracteriza o final do Governo FHC e também o primeiro mandato do Governo Lula.

Durante esse período, observamos dois ciclos de crescimento no Brasil. O primeiro veio do rali das commodities. O preço dos produtos que vendemos ao exterior ficou 40% mais caro frente ao preço dos produtos que compramos do setor.

Com 40% de ganho chegando de navio do exterior, pudemos distribui-los entre os cidadãos brasileiros.

E o segundo ciclo representou a explosão do consumo sob empurrão do crédito.

Qual o problema? Ambos acabaram.

As commodities andam de lado ou até mesmo caem desde a crise de 2008. E as famílias brasileiras, sem crescimento econômico, já muito endividadas e enfrentando juros muito altos, não conseguem mais crescer seu consumo.

Fim do Brasil: A Nova Matriz Econômica

Em resposta à crise de 2008, o Governo brasileiro abandonou o clássico tripé macroeconômico e adotou a chamada nova matriz econômica. Entre as medidas mais emblemáticas da nova política econômica, destaco:

- Aumento dos gastos públicos;
- Maior intervenção do Estado na Economia;
- Leniência no combate à inflação;
- Incremento da participação do BNDES, com estímulo à criação e ao fortalecimento de gigantes nacionais;
- Controle de preços;
- Atuações pesadas e frequentes no mercado de câmbio;
- Novo marco regulatório do setor petróleo e publicação da MP 579 (aquela do setor elétrico;
- Criatividade na contabilidade nacional; e
- Concessões mal feitas, fixando-se simultaneamente taxa de retorno e qualidade – é, óbvio, numa bivalência inatingível.

Em entrevista ao Valor em dezembro de 2012, Márcio Holland, secretário de Política Econômica, apresentou os pontos do novo tripé da seguinte forma: i) taxa de juro baixa; ii) taxa de câmbio competitiva; e iii) consolidação fiscal amigável ao investimento.

Sobre a taxa de juro, Holland destacou a queda de 5,25 pontos percentuais em 12 meses, num processo que permitiria aos agentes econômicos rever seus modelos de negócio e criar um ambiente favorável ao crescimento.

O governo Dilma havia começado com taxa Selic de 10,75% ao ano, levara o juro básico num primeiro momento a 12% para combater a inflação e logo implementara afrouxamento monetário vigoroso, levando o juro ao piso histórico de 7,25% ao ano.
Não há mentiras nisso. Mas há uma nuance de interpretação.

Atingimos a mínima histórica para os juros simplesmente por uma janela de oportunidade criada pelo contexto internacional, com juros reais negativos em todo mundo, como resposta dos Bancos Centrais desenvolvidos à quebra da Lehman Brothers em setembro de 2008.

Não houve qualquer novo equilíbrio de taxa de juro.

A Selic já é superior àquela do início do Governo Dilma. E deve subir (muito) mais para combater a inflação em 2015.

Fim do Brasil: A Fuga das Galinhas

A política cambial brasileira tem sido desastrosa. Simplesmente ignoramos o pressuposto do câmbio flutuante.

Primeiro, a tentativa do Governo era depreciar o real, para poder aumentar a competitividade das nossas exportações e estimular a indústria. Dá-lhe IOF e coisas parecidas.

Agora, o Banco Central usa o câmbio como instrumento de combate à inflação, deixando claro nas atas de suas reuniões que precisa do dólar a R$ 2,20 para manter a Selic no nível atual.

A turma de Alexandre Tombini vem sistematicamente vendendo dólares (de forma direta ou por meio de swaps cambiais) para impedir a inflação.

Com isso, reduz reservas internacionais num momento de farta liquidez global. Estamos queimando munição quando mais precisaríamos guardá-la.

Com isso, tornamo-nos cada vez mais frágeis às vésperas do início do ciclo de alta das taxas de juro pelo mundo. Quando efetivamente precisaremos vender dólares, estaremos com nível de reservas no limite. De novo, vai faltar dólar.

Para encerrar o ponto e combater em caráter definitivo a hipótese de taxa de câmbio competitiva, não há qualquer ganho de competitividade das exportações vindo da melhora dos fundamentos da economia brasileira.

A desvalorização do real nos últimos tempos é resultado exclusivo do elevado déficit externo e da falta de poupança pública.

Fim do Brasil: A Cereja do Bolo

Ficou para o final a questão fiscal. Não foi à toa. Aqui temos a cereja do bolo.

A política fiscal brasileira tem sido ultrajante, não havendo qualquer tipo de consolidação, muito menos amigável ao investimento. O governo tem, cada vez mais, ocupado o espaço do investimento privado, sem ele mesmo preencher adequadamente essa lacuna.

Na entrevista em questão, Márcio Holland foi categórico. “No ano que vem (2013), voltamos à meta de superávit cheia, sem desconto.” Ou seja, falávamos de um primário de 3,1% do PIB para 2013.

E o que aconteceu, de fato? O superávit primário do ano passado foi de 1,9% do PIB, mesmo com as receitas extraordinárias do campo de Libra e do Refis. Filtrando por esses elementos, teríamos um primário pífio de 0,9% do PIB.

Alguém poderia argumentar que o primário foi menor porque o próprio governo resolveu fazer investimentos, tendo notado ausência desse componente no setor privado. Isso já seria ruim, per se, dado o impacto de queda média da produtividade. Mas nem sequer é verdadeiro.

Tirando as estatais, o investimento público da União passou de R$ 59,4 bilhões em 2012 (equivalente a 1,35% do PIB) para R$ 63,2 bilhões em 2013 (1,31% do PIB).

Então, pergunta-se: a que consolidação fiscal se refere o governo?

Fim do Brasil: O Sonhou Acabou

Há pouco tempo, o Brasil era destino certo do investidor estrangeiro. O queridinho entre os BRICs (grupo que reúne também Rússia, Índia e China).

Atraímos a Copa do Mundo, seremos sede das Olímpiadas. Em pouco tempo, ganharíamos posto da quinta maior economia do mundo, algo impensável antes.

Protagonizamos a capa da revista The Economist, talvez a mais importante do mundo sobre economia e finanças.


Pouco tempo depois, como resultado da desastrosa “nova matriz econômica”, aquele conjunto de medidas adotada pelo governo brasileiro em resposta à crise de 2008, as coisas haviam mudado completamente.


Exatos quatro anos depois, a mesma The Economist, também em reportagem de capa de 14 páginas, questionava: o Brasil estragou tudo?


Bastaram quatro anos para destruirmos todo o otimismo.

A ideia de quinta maior economia do mundo foi abandonada, a presença entre os BRICs foi até mesmo questionada e especialistas apontam legado nulo dos grandes eventos esportivos.

Talvez você ainda esteja anestesiado pelo futebol da Copa do Mundo. Mas peço que saia do escopo esportivo por um minuto.

Veja, por exemplo, o que diz matéria da CNBC publicada no dia 26 de junho:

“Especialistas em mercados emergentes estão pessimistas em investir no Brasil, a despeito da Copa do Mundo. (…) 

‘Não há potencial positivo algum neste Governo, mesmo se tudo der certo’, afirma Drausio Giacomelli, responsável por pesquisa de mercados emergentes do Deutsche Bank.

‘Não se trata de ganhar ou não a Copa. Falemos do que interessa: um Governo incapaz de entregar os anseios populares por educação, transporte e infraestrutura no geral. Eles podem entregar estádios, mas não o que realmente importa’, diz ele.


Giacomelli também critica a condução da política monetária na administração Dilma: ‘Eles fizeram tudo errado desde o começo. Colocaram-se na pior posição possível para um mercado emergente, de estagflação (baixo crescimento e alta inflação).”

O economista Ricardo Amorim, aquele que comenta no programa Manhattan Connection, foi outro que recentemente alertou.

Em matéria com o economista, o site InfoMoney, citando Amorim, trouxe o seguinte: “a inflação está alta e grávida. Os preços administrados terão de subir após as eleições porque os governos vêm represando todo tipo de tarifa pública há dois anos. A conta deverá ser parcelada porque, se subir tudo de uma vez, a inflação das tarifas pode chegar a 14% em 2015.”

Fim do Brasil: E Agora, José

A metáfora com a gravidez é clássica. Não existe inflação um pouco alta. Inflação necessariamente cresce. E deve crescer muito.

Marcio Garcia, professor de Economia da PUC-RJ, trouxe tese semelhante em resposta ao jornal Valor Econômico de 27 de junho: “A inflação não vai ficar parada nos 6,5%, há uma inflação represada de 1,5 ponto percentual; os [preços] monitorados vão ter que subir; o câmbio não pode ficar muito tempo nesse nível de R$ 2,20 porque o déficit em conta corrente continua crescendo e é elevado. Tudo isso vai colocar pressão na inflação. Se você não tiver um BC que leve a inflação de volta à meta, passamos por um outro regime. Um regime turco, argentino ou até venezuelano.”

Depois de represar preços por dois anos, o Governo precisará soltar as amarras em 2015.  Somente esse movimento, supondo uma liberação única, deve colocar a inflação brasileira em 10% ao ano.

O Banco Central norte-americano deve começar a subir sua taxa básica de juro justamente em 2015. Isso vai causar um grande retorno de recursos para os EUA, com maior demanda por dólar. Ou seja, a taxa de câmbio pode caminhar rapidamente para cima.

Temos dois problemas importantes derivados dessa subida de taxa de juro nos EUA.

O primeiro é a grande dificuldade para fechar nossas contas com o exterior. Lembre-se que estamos dependendo da conta de capitais para fechar o balanço – e observaremos justamente fuga de capitais. Pela terceira vez, faço o alerta: vai faltar dólar.

E o segundo relacionado ao reforço importante ao problema da inflação, através do famoso repasse cambial. A disparada do dólar significa aumento do preço dos produtos transacionados no mercado internacional, os chamados tradeables. Aos poucos, também os não tradeables, por uma questão de preços relativos, também vão reagindo. Em certo tempo, temos uma escalada generalizada dos índices de preços apenas por conta do efeito câmbio.

E toda essa disparada do dólar vai também impactar sobre a inflação.

Combinando o repasse integral das tarifas públicas represadas e a desvalorização esperada do câmbio, entendo que a inflação brasileira pode chegar a 12% ao ano, para uma meta de 4,5%.

Não há saída para uma inflação bem acima da meta. O Banco Central terá de subir a taxa Selic. E como a diferença entre a inflação projetada e a meta é grande, o movimento dos juros terá de ser expressivo.

Não haveria surpresa em vermos taxa Selic de 15% ao ano.

A implicação imediata de um juro básico desse tamanho é óbvia: recessão.

Imagino que você entenda esse conceito.

Se o Brasil cresce 1% ao ano com juro básico de 11% ao ano, quanto vai crescer com a Selic a 15%?
Falamos de estagnação da economia, queda dos salários, aumento dramático do desemprego, esgotamento do crédito, queda vertiginosa do preços dos imóveis (muito sensíveis às taxas de juro) e aumento do endividamento das famílias.

Tudo isso num ambiente de inflação alta.

Já temos: o menor crescimento econômico desde o Governo Collor, a menor criação de postos de trabalho para um mês de maio desde 1992, o pior resultado das contas públicas para um mês de maio de toda a série histórica e o maior déficit em conta corrente para um mês de maio em toda a série histórica do Banco Central.

E teremos: a maior taxa Selic desde 2006 e descumprimento da meta de inflação, com a maior variação de preços desde 2002.

Rasgamos o que foi construído em 1994 e aperfeiçoado em 1999, sob o pretexto de implementação de uma nova matriz econômica, heterodoxa.

Temos um único resultado prático: voltamos a 1993.

Se, metaforicamente, nasce um novo País em 1994, com a estabilização da economia, podemos dizer que a nova matriz econômica e suas consequências representam o falecimento desse Brasil.

O Ativo mais Valioso em Tempos de Crise


A título de curiosidade, encerro este post revelando qual é o ativo mais valioso em tempos de crise. Sinto lhe dizer que não são FIIs, ações, títulos de governo, ouro e muito menos dólar.

Na verdade, desde 1970, um ano antes do então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon anunciar o fim do padrão ouro para o dólar, encerrando o sistema monetário internacional de Bretton Woods que ajudou a tornar o dólar a moeda de reserva mundial, este investimento ultrapassou facilmente as ações e o ouro.

Veja o gráfico abaixo …


Então qual é este ativo mágico?

Estamos falando de terras agrícolas. O gráfico acima mostra o retorno total de terras agrícolas nos EUA contra o retorno total do mercado de ações (incluindo dividendos) e os retornos totais de ouro (o que, naturalmente, não paga dividendos).

Os retornos de terras agrícolas vêm de duas fontes: Cerca de metade dos retornos totais vêm da valorização da terra real. A outra metade vem do “aluguel” das terras. Você pode cultivar sua terra ou contratar alguém para fazer isso por você. Adicione estes componentes juntos, e é fácil ver por que os retornos totais de terras agrícolas ultrapassaram ouro e ações.

Alguns chamam terras “de ouro com yield”

Qual é a mágica?

Quando os preços dos alimentos sobem, os preços das terras agrícolas sobem. E mesmo em épocas de crise profunda não há falta de bocas para alimentar.

E com um benefício adicional: retornos de campos agrícolas têm pouca correlação com os retornos de ações e títulos. Terra não cai em um único trimestre durante a crise financeira.

Claro, terra tem um outro grande benefício, ela pode realmente salvar a sua família durante uma grave crise.

Barton Biggs, em seu excelente livro, Riqueza, Guerra, e Sabedoria , relata que terras eram a única coisa que salvou famílias na França ocupada, Polônia, Holanda, Alemanha e Itália.

Uma fazenda sem ostentação, e não uma grande propriedade, é provavelmente o melhor. Tijolos e argamassa, imobiliário podem ser desapropriados ou bombardeados, mas a terra sempre estará lá.

Durante a Segunda Guerra Mundial, na maioria dos países ocupados, se você tivesse uma fazenda auto-suficiente, você poderia agachar sobre ela e, com sorte, esperar o desastre. No mínimo vocês foram abastecidos com alimentos em um país faminto.

E você o que acha? Seriam terras agrícolas o ativo mais valioso do mundo em tempos de crise?

Fonte: http://flyinggaruda.blogspot.com.br/2011/01/worlds-most-valuable-asset-in-time-of.html

sábado, 9 de março de 2019

A Mão Invisível do Estado

Publicada em 1651, “Leviatã” é a obra mais conhecida de Thomas Hobbes. Neste livro, fala-se da estrutura da sociedade e do governo legítimo, sendo considerado um dos exemplos mais antigos e mais importantes da teoria do contrato social. Hobbes defende o governo de um soberano absoluto. Para o autor, o caos ou a guerra civil - Bellum omnium contra omnes (guerra de todos contra todos) - só poderiam ser evitados por um governo central e absoluto. O Estado seria uma espécie de monstro - o Leviatã - que concentraria todo o poder em torno de si ordenando todas as decisões da sociedade.


Já não é novidade que o ânimo otimista do mercado diante da subida da oposição nas pesquisas eleitorais ocorre por causa do descontentamento dos investidores com as recentes intervenções do governo em diversos setores da economia. Para aprofundar um pouco mais neste tema, sugiro a leitura do livro Capitalismo de Laços, de autoria do professor Sérgio Lazzarini. Nesta obra, o autor revela a influência do setor público na economia nacional, inclusive nas empresas que foram privatizadas na década de 90 e deveriam estar a salvo do jugo governamental. 

Sérgio Lazzarini é especialista nas interconexões – reveladas e veladas – que existem entre as empresas e o Estado brasileiro. É PhD em Administração pela John M. Olin School of Business (Washington University), Mestre em Administração pela FEA e professor titular de Organização e Estratégia e diretor de Pesquisa e Pós-Graduação do Insper.

A Mão Invisível do Estado

O Brasil passou a maior parte de sua história moderna perseguindo uma modernização conduzida pelo Estado. O diagnóstico era periclitante: uma pesquisa no começo da década de 1980 mostrou que o país tinha mais de 500 Estatais. Neste contexto, o país lançou um esforço de privatização nos anos 1990 para lidar com a hiperinflação, déficits orçamentários, ineficiência da máquina estatal, dentre outros sintomas. 


Mas nos últimos anos o governo PT moveu-se em uma nova direção: despejou recursos em um punhado de campeãs estatais. Também criou um novo modelo de política industrial: substituiu a propriedade governamental direta pela indireta por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e sua subsidiária de investimentos (BNDESPar). Desta forma, o governo trocou o controle majoritário por minoritário ao adquirir ações de uma ampla gama de diferentes empresas. Sergio Lazzarini e Aldo Musacchio, da Harvard Business School, batizaram o modelo de “Leviatã como Acionista Minoritário”.

Mas essa astuta versão de capitalismo de Estado está excedendo suas possibilidades. Temos verificado nos últimos anos um surto de intervencionismo insensato. Nos próximos capítulos, Lazzarini nos fornece mais detalhes sobre este cenário.

Leviatãs

Não é de se causar espanto o fato de que o intervencionismo estatal está aumentando no Brasil. Segundo Lazzarini, há um retomo ao que se chama “Leviatã majoritário”. Foi esse o modelo que preponderou durante a ditadura militar. Naquele tempo, o governo era o dono de várias empresas, estatais, que dominavam uma fatia muito grande da economia. Com as privatizações na década de 90, passou-se ao estágio do “Leviatã minoritário”. O governo continuou presente nas empresas, mas com um poder menor. Isso aconteceu principalmente por meio dos fundos de pensão e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que viraram grandes acionistas.


No segundo mandato do presidente Lula, a tendência de encolhimento do Estado foi revertida. O BNDES passou a conceder financiamentos a juros atrativos para realizar fusões entre grandes empresas. A ideia básica era sacrificar a competição no mercado nacional, que ficou fortemente concentrado, forjar “campeões nacionais” e lançar produtos no exterior, o que raramente aconteceu. Com Dilma Rousseff, a intromissão estatal se acentuou. Ela decidiu-se pela intervenção direta na Petrobras para conter o aumento no preço da gasolina. No elétrico, pressionou as empresas a reduzir o valor das contas de luz, o que reforçou o papel da Eletrobrás, estatal.

Segundo ele, Dilma está levando o Brasil novamente em direção ao Leviatã majoritário. Diz ainda que, em termos de princípios econômicos, Dilma não é muito diferente dos militares.

A Crise de 2008 e a Crise do Império X

Lazzarini pontua que durante a crise de 2008 o Brasil não foi muito atingido, principalmente, porque a China continuou crescendo e importando nosso minério de ferro e produtos agrícolas. Contrariando a tese de que o socorro estatal, principalmente através de créditos do BNDES, foi o que salvou a economia da crise.

Não houve problema no primeiro momento porque o dinheiro público estava retornando aos cofres públicos na forma de dividendos das estatais e do próprio BNDES. Agora, o mundo todo desacelerou. O capital que foi emprestado pelo governo a muitos empresários não será produtivo e haverá problemas para recuperar os investimentos. 

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a participação do BNDES nos negócios de Eike Batista desde a eclosão da crise do grupo EBX, mantida sob sigilo pelo tribunal, indica “fortes indícios de operação antieconômica e de potencial perda patrimonial” para o banco. O braço de participações societárias do banco público (BNDESPar) investiu R$ 993,9 milhões em ações de cinco empresas ligadas ao empresário. O relatório cita dois períodos: dezembro de 2007 e julho de 2012. Em julho deste ano, quando a análise do TCU começou a ser feita, o valor de mercado dessas ações era de R$ 551,8 milhões.


O resultado da auditoria revela também o perfil das garantias financeiras exigidas pelo BNDES na concessão de empréstimos ao grupo EBX. Segundo o relatório técnico, 10% das garantias referentes ao empréstimo total contratado de R$ 6,235 bilhões (em 14 contratos) tratam-se de modelos de aval não-bancários, como pessoais, corporativos e hipotecários. Em pelo menos dois contratos, o próprio “Sr. Eike Fuhrken Batista” figura como garantidor de financiamentos, sendo o último desses contratos feito com a OSX, de R$ 1,344 bilhão, assinado em 14 de junho do ano passado. A OSX está em recuperação judicial desde o dia 25.

Troca de Favores

Para Lazzarini os empresários dizem que sempre apoiam um político por segurança. Querem ter certeza de que, quando vier uma mudança nas regras do jogo, eles, pelo menos, terão para quem ligar. Ou seja, eles sentem que estão sempre sujeitos a sofrer os efeitos de algum tipo de intervenção. As grandes empresas apoiam mais de um partido durante a campanha eleitoral para garantir que, seja qual for o resultado das urnas, elas sempre tenham interlocução em Brasília.


Através de pesquisas foi comprovado que as empresas que mais doaram a políticos vencedores de eleições são as que mais receberam recursos públicos depois da posse do eleito. Em 2011, em um estudo realizado por Lazzarini em colaboração com pesquisadores de Harvard, da Fundação Getúlio Vargas e da Universidade do Vale do Itajaí, foi demonstrada a existência de uma relação direta entre o apoio a um candidato bem-sucedido e a obtenção de recompensas mais tarde. A pesquisa mostrou que, em média, uma grande empresa recebe 28 milhões de dólares, em empréstimos ou outras formas de apoio, do BNDES, para cada depurado, governador, senador eleito com seu apoio.

O Estado Onipresente

As privatizações dos anos 90 não encolheram substancialmente o Estado brasileiro. A gordura foi reduzida, mas o governo não perdeu músculos. Durante aquele processo, os grupos de oposição impediram que fosse feita uma privatização verdadeira.

Com raras exceções, como a Inglaterra de Thatcher, as privatizações não tiraram o Estado da economia de mercado. Na Europa, na América Latina e na Ásia, as estatais estão entre as companhias mais comercializadas nas bolsas. Entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), os governos participam do capital de 30% a 50% do valor total das empresas no mercado. Nos Estados Unidos, esse índice é próximo de zero. Na Inglaterra, é de 3,7%. No Chile, mais perto da gente, é de 1.3%. 
 
No Brasil, o próprio presidente Fernando Henrique, que comandou as maiores privatizações, admitiu que não teria sido possível passá-las totalmente para a gestão privada. Para viabilizar o processo, FHC admitiu nas empresas privatizadas a participação dos fundos de pensão, que investem na aposentadoria dos funcionários públicos, e do BNDES. 


Como o governo se manteve firme nas antigas estatais e está presente em inúmeras empresas privadas que dependem do BNDES, é tolo achar que os empresários no Brasil possam tocar seu negócio sem um olho na política. Na atual situação, é mais crucial para eles fazer a ronda por Brasília do que, propriamente, cuidar da estratégia corporativa.

Uma Ex-estatal na Mão do Governo

Lazzarini ilustra a conversa com o caso da Vale: Mais de uma década após a privatização, em 2009, a mineradora ainda estava submetida aos desejos do governo. O então presidente Lula decidiu que a Vale deveria investir em siderurgia no Brasil. Do ponto de vista econômico, não fazia o menor sentido por havia uma enorme capacidade ociosa nesse setor. Lula também pressionou para a Vale comprar navios feitos no Brasil a um preço muito maior do que o do mercado internacional. 


O então presidente da Vale, Roger Agnelli, em benefício da saúde da empresa, resistiu à pressão e foi demitido. Sem um controlador privado majoritário, a Vale, mesmo privatizada, continua refém dos fundos estatais de pensão e do BNDES, que, por sua vez, obedecem ao presidente de República. O Brasil criou esses monstrengos híbridos que são a cara do nosso capitalismo de laços.

Imagem Arranhada

Nos últimos anos, o aumento expressivo na quantidade de empréstimos do banco tem sido alvo de críticas. Entre 2000 e 2012, o volume de desembolso avançou mais de 600%, com o BNDES assumindo papel cada vez mais central na expansão de multinacionais brasileiras e no apoio à política industrial do governo.

Para o economista Mansueto Almeida, a falta de clareza dos critérios utilizados pelo banco ao escolher quem receberá crédito arranha a imagem da instituição:  O banco público deve focar seus recursos em projetos de elevado retorno social, e não individual. Se o projeto é muito bom, mas traz benefício só para a empresa, o empréstimo deve vir de banco privado. 


Pesquisa elaborada pela Fundação Getulio Vargas em 2013 apontava que o banco tinha perdido 38% do patrimônio líquido com quedas na bolsa e na política de distribuição de dividendos. Para o economista Gabriel Leal de Barros, autor do estudo, não faz sentido o banco pagar dividendos ao acionista controlador, o governo, se o Tesouro continua liberando empréstimos para o BNDES manter sua política de crédito. É como se o dinheiro circulasse para voltar às mesmas mãos.

Fontes