segunda-feira, 23 de abril de 2018

Um Impasse Mexicano?


De volta a 2013. Após algumas vitórias pontuais, a então “fervura” de processos judiciais entre Matias e Desalinho se arrefeceu, tornando-se uma mistura insossa e fria de atos processuais sem nenhum desfecho permanente.

Uma série de recursos tomou de assalto as instâncias superiores, e, assim, uma procissão, de joelhos, subiria as escadas dos tribunais brasileiros por anos, senão décadas.

Desalinho era devedora, no fim das contas, mas de apenas uma pequena fração do que lhe era cobrado. Todas as cartas estavam na mesa, e de certa forma, depois que as contas foram acertadas, ainda que provisoriamente, permaneceu inerte, aguardando o veredito final, e permaneceria  desse jeito se não fosse a derrocada econômica de Matias.

As disputas judiciais com o meu cliente acendeu o alerta dos parceiros comerciais de Matias, que começaram a desconfiar da lisura dos negócios e a obter também decisões judiciais desfavoráveis a ele. Um ciclo vicioso de derrotas, com teses e documentos sendo replicados nesses processos subsequentes, que comprovavam a má-fé e o modo de operação das trapaças de Matias e Henrique.

Matias colocou a arma na cabeça da Desalinho, contudo não poderia puxar o gatilho sem sair ileso. Isso é o que se chama de “impasse mexicano”, e que povoa os filmes americanos de faroeste.

Não tardou muito para que, enfim, Henrique entrasse em contato, flamejando para mim uma bandeira branca, numa tentativa desesperada de pôr fim ao bombardeio sofrido em todos os flancos e receber o que era devido logo. Marcamos uma reunião para o dia seguinte na casa de Matias, em vez do escritório da empresa. Essa era a única condição.

Avisei na sequência o novo representante do cliente sobre o início da tentativa de acordo, que não sabia do que se tratava. Da minha parte, era um alívio poder pensar em me livrar daquilo tudo, principalmente por causa do desinteresse que tomou conta com o passar do tempo, sem falar da baixa remuneração. Porém a história ganha um certo tom bizarro a partir daqui.


A casa de Matias é um verdadeiro palacete, e muito bem localizada em São Paulo. Havia lá empregados diversos para a manutenção da casa e a prestação de serviços domésticos, e até uma secretaria, que o auxiliava em pequenas tarefas, por exemplo, para usar o celular e preencher uma agenda, um daqueles cadernos compridos de capa preta.

A secretaria nos guiou da porta até uma sala enorme, onde o representante destacado da Desalinho e eu aguardávamos a audiência.

Na sala, um relógio enorme de madeira marcava 4:14 horas, com o pêndulo parado, todavia. Parecia alguma espécie de relíquia, que se somava a pinturas diversas na parede e a outros móveis cujo preço incluísse talvez valores históricos. Tudo disposto de maneira aleatória, como em um museu itinerante, prestes a zarpar. Não sei se mirei muito a escrivaninha, ou se isso fazia parte do guia de visita, mas a secretaria explicou, pacientemente, a história do luxuoso móvel, refeito a partir da porta da casa de alguém ilustre, que viveu há muitos séculos. De fato, depois percebi que a mesa possuía um certificado emoldurado sobre a procedência, algo mesmo de exagerada pompa para se ostentar na sala de casa.

Passados alguns minutos, finalmente os anfitriões nos receberam. Matias vestia um robe, como um desses milionários caricaturados, parecia o Sr. Burns. Nesse momento deixei escapar um sorriso, a cena era bastante cômica. Ainda bem que o sorriso provavelmente foi interpretado como sinal de cordialidade. Cumprimentei Matias e Henrique, e todos nós entramos em uma espécie de sala de reuniões improvisada com equipamentos médicos.

Matias logo propôs um acordo rápido, que favorecia ambas as partes, como um desabafo, ao mesmo tempo que tentava manter o ar de arrogância costumeiro. Henrique era lacônico, como um réu confesso. O acordo era parte da tentativa de Matias salvar o próprio legado, e quando o representante da Desalinho recusou a proposta, pôs-se a contar sobre a parte gloriosa de sua epopeia ao Brasil. Nada disso mudou o número previamente calculado por analistas e aprovado pelos escalões competentes da Desalinho.

A parte podre das histórias de Matias surgiu em um momento mais reservado, em reuniões seguintes, em que discutíamos como promover um acordo que fosse mais benéfico à Desalinho, indiferente aos apelos do, agora visivelmente, moribundo. Como a velhice estava sendo cruel a Matias. Uma dessas doenças degenerativas lhe corroía impiedosamente o corpo, a sanidade e os reflexos, à medida que o palacete era depenado e mutilado por dentro pelos credores.

Com o impasse no acordo, cada vez mais as reuniões se transformavam em confessionários. Depois de um tempo, embora injustificáveis, as paranoias, a maldade, a exploração alheia e a canalhice pareciam fazer sentido. Afinal, aquele império de outrora somente se manteve unido, em pé, por causa dessa fórmula maligna. Velho e doente, Matias não dispunha mais dos ingredientes necessários para manter tudo o que criou, tomou e reuniu intacto.

As reuniões se tornaram cada vez menos frequentes, até que Matias morreu, levando consigo a história sem furos. A notícia da morte chegou com a aceitação da proposta, por Henrique, quem enganou Matias, e cuja pena era cumprida pelo casamento com a filha do chefe, Margarida, uma pena perpétua, que abraçou voluntariamente.

Henrique, “o milionário”, recebeu muito dinheiro em nome de Matias e de sua família pelo acordo feito com a Desalinho, e continuou a viver a vida que sempre quis, dessa vez sem a sombra do sogro.

E, das prateleiras, os autos do processo foram encaminhados ao arquivo.

Dr. Honorários
Abril de 2018

sábado, 14 de abril de 2018

Ranking dos Blogs de Finanças

Tenho visto por aí, nos blogs da finansfera, vários comentários a respeito da qualidade dos blogs. Muitos leitores estão reclamando do nível dos assuntos publicados pelos blogueiros. Alguns leitores já desistiram de acompanhar os blogs da finansfera brasileira e agora acompanham apenas os blogs da finansfera americana. A pergunta que surge é: nossa finansfera está morrendo?

Ao fazer o levantamento do ranking dos blogs de finanças do primeiro trimestre de 2018, pude notar alguns números nada animadores. Apesar do número de blogs em atividade ter aumentado bastante nos últimos meses (tenho cadastrado 220 blogs), a grande maioria deles caiu no ranking ou sequer está ranqueada.

Comparando o último levantamento realizado em janeiro com o levantamento realizado hoje, 79 blogs caíram de posição no Alexa Rank sendo que 90 blogs nem estão ranqueados atualmente. Sabemos que nossa finansfera é muito amadora se comparada com a finansfera americana. O que comprova isto é a grande quantidade de blogs sem domínio próprio. Enquanto que na finansfera americana, 100% dos blogs possuem domínio registrado, aqui na nossa finansfera o percentual não passa de 5%.

http://abacusliquid.com/best-finance-blogs/

Acredito que a falta de conhecimento dos blogueiros é um dos pontos que contribui para a baixa relevância da nossa finansfera. Outro fator que prejudica a finansfera brasileira é o desaparecimento dos blogueiros mais experientes. Nesta semana, em conversa por Skype com o colega blogueiro Economicamente Incorreto, estava discutindo sobre isto. Ele mesmo me confidenciou seu caso que vai de encontro à minha percepção. Me disse que seu grau de interesse por um assunto gira em torno de 4 anos. Isto é, durante algum tempo da sua vida, estudou e publicou muitos artigos sobre investimentos, mas naturalmente o assunto se esgotou e hoje direcionou seu foco para outros interesses.

Isto é algo que ocorre na vida de todo mundo, o ser humano, assim como tudo na natureza, tem a vida composta de ciclos. Mas o que afasta os blogueiros mais experientes da finansfera, na minha forma de ver, é justamente o amadorismo dos blogueiros. Algo que não ocorre na finansfera americana, já que lá se fala muito em independência financeira e os próprios blogs são um tijolo para a construção deste objetivo. Como são todos profissionais, os mesmos se constituem como um ativo financeiro do blogueiro, capaz de gerar renda "semi-passiva".

Digo "semi-passiva" porque a manutenção de uma blog exige esforço. Não é como comprar um fundo imobiliário e ficar só esperando o aluguel cair na conta todo mês. Ter um blog é um trabalho como outro qualquer, a grande diferença é que você é dono dele, e é a melhor forma de sucessão patrimonial que eu conheço. Quando você morre, a sua herança é tributada pelo governo. Isto não ocorre com um blog. Quando eu morrer, meu filho irá herdar 100% da renda proveniente dos meus sites, com tributação zero nesta transferência de ativos.

Ranking da Finansfera 1T2018

 

Nas primeiras 7 posições do ranking, não tivemos novidades: os blogueiros mais bem posicionados no ranking mantiveram suas posições. Além disto, todos eles conseguiram subir no indicador Alexa Rank.

3 nos blogueiros estão agora no top-10: Ele Não Surfa Nada, Resenha Virtual e Corey Investidor. Outros blogueiros que subiram no ranking foram: Investidor Inglês, Aposente aos 40 e Além da Poupança.

O blogs mais bem posicionados que caíram no ranking foram: Pobre Poupador, Viver de Renda, Blog d'Uó, Investidor de Risco, Buscando o Primeiro Milhão, KB Investimentos Senhor Bufunfa e Seu Madruga.

Este blog que vos fala é um exemplo do que ocorre na finansfera. Na medida em que posto menos por aqui e tenho menos engajamento com os leitores, meu posicionamento vai caindo no ranking.

Em vermelho estão os blogs que saíram do ranking. Em azul estão os blogs que entraram. Tivemos 33 blogs saindo e 28 blogs entrando no ranking. Portanto, o saldo negativo para a nossa finansfera. Vamos ver se melhora daqui três meses.