quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Por que Aécio Perdeu em Minas?

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Em 2006, Aécio Neves foi reeleito governador de Minas Gerais com 77% dos votos válidos. No começo de 2010, deixou o governo do Estado, com 92% de aprovação dos mineiros. Nas eleições daquele ano, elegeu seu vice, Antonio Anastasia, no primeiro turno, para o governo do Estado. Chegou ao Senado com uma votação impressionante. Conseguiu ainda eleger o ex-presidente Itamar Franco, que fechava sua chapa, para a segunda vaga do Senado, derrotando Fernando Pimentel (PT), recém-eleito governador de Minas.

Assim, as contas de Aécio e dos tucanos mineiros para as eleições presidenciais deste ano eram que ele teria 2,5 milhões de votos a mais do que PT em Minas Gerais  no primeiro turno. No segundo turno, a expectativa era de que  Aécio venceria a petista Dilma Rousseff por mais de três milhões de votos.

Quando as urnas foram abertas: surpresa! Aécio perdeu por mais de 500 mil votos no segundo turno – algo parecido com o que já havia acontecido no primeiro. Uma vitória pela metade dos votos que imaginavam seus correligionários – e mesmo seus adversários, que prometiam a Dilma apenas uma honrosa derrota em Minas – já seria suficiente para levar Aécio ao Palácio do Planalto.

A grande pergunta que todos tentam responder é: Por que Aécio perdeu em Minas?


Mini Brasil

O PSDB passou quase uma década vendendo a imagem de uma Minas unificada em torno de Aécio Neves. Mas o partido enalteceu tanto a imagem do estado que vendia nas propagandas oficiais que acabou acreditando nela.

A projeção triunfalista de que Aécio ganharia as eleições presidenciais com grande folga em Minas acabou se transformando na principal debilidade do PSDB. Foi derrotado no estado que, devido às suas imensas desigualdades sociais (o estado é considerado um “mini Brasil”), é tido como um reflexo eleitoral do país e, tradicionalmente, indica o vencedor da corrida à presidência da república.

De acordo com o cientista político Juarez Guimarães, a maioria do eleitorado mineiro, especialmente do ponto de vista social, se identifica mais com o nordeste do que com o sul. E isso acabou por favorecer a candidatura petista. “Das dez mesorregiões de Minas Gerais, a presidenta Dilma Rousseff foi a preferida em sete”, contabiliza ele.

O tucano Aécio Neves só obteve maioria no Sul de Minas, econômica e culturalmente ligado a São Paulo; na Grande BH, onde a máquina tucana segue firme e o antipetismo se consolida; e na Centro-oeste.

“Na capital mineira, Aécio teve uma vitória muito expressiva (64% a 35%), o que reflete uma sedimentação do antipetismo nas camadas médias da cidade. Até mesmo em Contagem, cidade industrial da grande BH onde a esquerda sempre foi majoritária, Aécio ganhou por 51% a 42”, acrescentou.

Minas sou Eu

Segundo Juarez, os mineiros entraram no 2º turno frente às duas grandes derrotas para Aécio, o que dissolveu-se toda a aura e toda a simbologia política da sua condição de disputar as eleições nacionais com o discurso de que ele representava Minas Gerais, de que ele reafirmava a unidade de Minas Gerais.

“É importante lembrar, inclusive, que nas últimas disputas eleitorais no Estado, o PSDB chegava a afirmar que ‘Minas é Aécio’. Uma afirmação talvez mais forte do que aquela do Luiz XIV de que ‘O Estado sou eu’. Em Minas, é ‘O estado e a sociedade sou eu’. Uma afirmação muito triunfalista, que revelava essa ideologia do aecismo em Minas Gerais”, acrescenta Juarez.

Contraditório

Para o cientista político, o PSDB monopolizou o discurso eleitoral no estado por quase uma década, com base em um forte controle midiático e no enfraquecimento da oposição. Em Minas Gerais, ao contrário do resto do país, houve uma aliança entre a maioria do PT com o PSDB, em 2008, para indicar Marcio Lacerda, do PSB, à prefeitura de Belo Horizonte.

“Por alguns anos, a oposição ao Aécio ficou muito enfraquecida, pelo fato do seu principal partido apoiar o governo. Então, nós passamos de uma situação em que o Aécio não tinha que enfrentar o contraditório para uma situação em que ele teve que lidar com forte contraditório, com capacidade de vocalização pública. E, ao invés de conseguir unir Minas, acabou por revelar as forças sociais dividem o estado”, esclarece.

Conforme ele, também contribuiu para o resultado  o fato de que, pela primeira vez, o PT disputou as eleições para o governo do estado muito unificado em torno de uma candidatura competitiva desde o início. E, em contrapartida, a candidatura do PSDB, que indicou Pimenta da Veiga, um político há muito tempo afastado do estado, não caiu no gosto da população. “A candidatura dele foi fruto do triunfalismo do PSDB que acreditava que, qualquer candidato posto ao lado do Aécio, ganharia as eleições.

Juarez Guimarães ressalta, por fim, que, nos últimos anos, no Estado, houve um acúmulo muito importante dos movimentos sociais de oposição ao projeto do PSDB, que conseguiram criar um espírito público de oposição no estado. Segundo ele, isso ocorreu durante a longa greve dos professores da rede estadual, que reivindicavam a aplicação do mínimo constitucional na educação e recebimento do piso nacional do magistério.

“Isso reorganizou a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e resultou na criação de um movimento de grande impacto, o ‘Quem luta, educa’, que faz campanhas permanentes em tornos de questões sociais, como um plebiscito sobre a elevação das tarifas da energia, uma das mais caras do país”, acrescenta.

Outras Explicações

Segundo o jornalista Leopoldo Mateus em matéria publicada na revista Época, três explicações são dadas, tanto por petistas quanto por tucanos, para o fiasco de Aécio em Minas: o erro de Aécio ao escolher seu candidato (Pimenta da Veiga)  para o governo do Estado; o acerto do PT na escolha do seu (Fernando Pimentel), que conseguiu unir os petistas, divididos desde as eleições municipais de 2008; e o eficiente trabalho de desconstrução do governo de Aécio em Minas e de sua imagem pessoal feita pela campanha da presidente Dilma Rousseff.

Pimenta da Veiga foi uma escolha pessoal de Aécio por dois objetivos principais. O primeiro era que o PSDB tivesse um candidato com currículo parecido, com passagens pela prefeitura de Belo Horizonte e pelo governo federal, com o de Fernando Pimentel, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, para que pudesse enfrentá-lo à altura. Sem nenhum outro nome entre seus aliados do PSDB mineiro, Aécio resolveu trazer de volta à política Pimenta, afastado da vida pública há 12 anos. O segundo objetivo  era apaziguar uma disputa  interna no PSDB mineiro, entre os grupos de um de seus mais antigos conselheiros, o secretário de Governo, Danilo de Castro, e o presidente do diretório estadual, o deputado federal Marcus Pestana. A estratégia não deu certo.

Pimenta não cresceu na campanha para o governo do Estado – e isso acabou atravancando também  Aécio em Minas. A cúpula tucana avalia que a campanha de Pimenta cometeu uma série de equívocos.  Um deles foi a veiculação de uma mesma inserção de rádio por vinte dias consecutivos. Outro grave erro é que a  campanha também demorou a vincular Pimenta aos 12 anos de governos bem-avaliados do PSDB no estado.

O trabalho do marqueteiro Cacá Moreno provocou grande insatisfação entre os caciques tucanos. Em determinado momento, Andrea Neves, irmã de Aécio e uma das principais colaboradoras da comunicação de sua campanha presidencial, voltou para o estado com o objetivo de tentar reverter o cenário.  Não conseguiu.

Em contrapartida, os acertos do PT mineiro foram muitos. A começar pela escolha de Pimentel, que, antes da campanha, já  aparecia bem  nas pesquisas de intenção de voto há pelo menos um ano. Antes de ir para o governo Dilma, Pimentel deixara a prefeitura de Belo Horizonte com excelente aprovação. Ele chegou a ser eleito, pelo site inglês Worldmayor, o oitavo melhor prefeito do mundo.

A pacificação do PT mineiro, rachado desde a disputa interna entre os grupos do ex-ministro Patrus Ananias e Pimentel em 2008, quando o PT apoiou Márcio Lacerda (PSB), ex-secretário estadual de Aécio, para a prefeitura de Belo Horizonte,  também foi fundamental. Enquanto o PSDB não  encontrou um nome natural para suceder Aécio e Anastasia, o PT já tinha o homem ideal para enfrentar os tucanos há mais de dois anos. Além disso, o PT soube trabalhar a candidatura de Pimentel, aproveitando-se das fragilidades da adversário e do fato de que Aécio não pode se concentrar tanto em Minas nessa eleição como de costume.

Os ataques pessoais a Aécio feitos pelo PT no segundo turno também ajudaram a barrar seu crescimento no Estado. No início do segundo turno, Aécio ameaçou deslanchar em Minas. Mas as pesada críticas ao seu governo, as dúvidas levantadas sobre os investimentos  na área de saúde e as  acusações de nepotismo feitas pela candidata Dilma Rousseff o detiveram. A estratégia petista deu certo. Dilma conseguiu bater Aécio justamente no único colégio eleitoral em que ele nunca, nos últimos quatro anos, imaginou que poderia perder as eleições.

Cenas dos Próximos Capítulos

Pimentel assume um estado debilitado. A transição de governo já começou e os técnicos do novo governo estão assustados com o nível das contas públicas. Caso o PSDB decida lançar Aécio Neves nas próximas eleições terá que contar com um governo Pimentel aquém das expectativas. Se o PT conseguir arrumar a casa aqui em Minas então Aécio perderá novamente. Aécio tem, desde já, dois adversários: Pimentel aqui em Minas e Lula “o retorno” no resto do Brasil.

Fonte 1
Fonte 2
Fonte 3

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A CEMIG e o Pimentel: Cai no Boato, Sobe no Fato!

O que mais ouço por aí, principalmente vindo dos investidores bastterianos, são duas máximas:

1 - Não compre (nem venda) notícias
2 - Cotação não importa e sim os balanços

Bom, para não começar a velha ladainha novamente em mais um post sobre este velho tema, vou apenas dizer que considero as duas afirmações válidas. Porém, considero também que toda unanimidade é burra e o oposto das afirmações também é válido. Temos aí uma dicotomia saudável, e só não tira proveito dela quem não quer.

Indo ao tema central do post, vou apresentar aos leitores um gráfico atualizado da nossa querida CEMIG (ações PN):


Lendo os últimos posts dos colegas de blogosfera, percebi um movimento curioso, porém já conhecido: o famoso efeito manada. Até então a CEMIG era uma das queridinhas dos colegas, e contrariando totalmente o princípio 1 (não compre nem venda notícias), o que presenciei foi um monte de gente passando a foice nos papéis, provavelmente influenciados negativamente pelos boatos que surgiram em torno deste artigo aqui.

O medo foi instaurado no mercado, e a galera foi às vendas, a empresa "que era boa ficou ruim" pois o candidato que estava na frente nas pesquisas planejava, se eleito, diminuir as tarifas - mas que bom, torço por isto, mesmo porque chega na minha casa todo mês uma boleta da CEMIG.

Então o candidato foi eleito em primeiro turno mas, por ironia do destino, as ações não mais cairam, pelo contrário, o "trem", como se diz aqui em Minas, disparou.

Não vou tirar nenhuma conclusão preciptada, o mercado é temperamental e amanhã a tendência de queda pode continuar. Os preços podem estar simplesmente pegando carona no efeito Aécio, vai saber.

Agora vamos discutir a afirmação 2 (cotação não importa e sim os balanços). Faço então uma pergunta aos colegas que venderam os papéis: os fundamentos da empresa pioraram nos últimos balanços?

Faço outra pergunta, mais polêmica: analisando o gráfico abaixo, a boataria foi benéfica para o investidor que gosta de comprar "barato"?


Não vou responder, quero ouvir de vocês. Termino o post com este excelente documentário sobre o Pearl Jam. Abraço a todos!